É bem conhecida a presença de elementos da cultura medieval nas obras literárias de Ariano Suassuna. Fala-se frequentemente em uma “herança” da Idade Média ibérica, não somente nos escritos do autor, mas no movimento armorial como um todo; o próprio Ariano Suassuna costumava identificar o movimento como um importante fator de identidade que associava as especificidades do Nordeste brasileiro à herança da cultura ibérica. Porém, considerando que a própria noção de “Idade Média” é uma construção, podemos realmente afirmar que os traços “medievais” do Nordeste são uma herança da colonização?
Baseando-se na noção de neomedievalismo e na perspectiva decolonial, esta pesquisa busca provar que, a partir das apropriações e ressignificações de uma noção de Idade Média, bem como da associação desta à história regional do Nordeste, é possível identificar, na narrativa dos textos de Suassuna, as estruturas significativas de um universo ficcional que monumentaliza uma memória nordestina que se pretende “popular” e descolonizada.