Um palimpsesto é um pergaminho cuja primeira inscrição foi raspada para se traçar outra, que não a esconde de fato, de modo que se pode lê-la por transparência, o antigo sob o novo.
(Gerárd Genette)
Gerárd Genette se utiliza do termo palimpsesto para referir-se ao que chama de “literatura de segunda mão”. Aqui, referimo-nos à metáfora do palimpsesto por motivos um pouco diferentes, mas também óbvios: somos, na maioria, medievalistas. Formamos, desde 2012, um grupo de pesquisa voltado aos estudos de História Medieval. À nossa identidade acadêmica, ainda preservada, somam-se novos interesses, novos horizontes, novas abordagens e – por que não? – uma reformulação de nossas concepções historiográficas. Acreditamos que nossas experiências como grupo de pesquisa não devem ser por nós ignoradas, pelo contrário, reconhecemos que o amadurecimento exige de pesquisadores e docentes tomadas de posição com base nas pesquisas, na docência e nas relações interinstitucionais. Considerando ainda um interesse crescente em temáticas mais abrangentes (os estudos narrativos de uma forma geral e as apropriações e ressignificações do imaginário medieval na época contemporânea), chegamos a uma decisão inevitável: era hora de incluir essa nova “inscrição”, sem, contudo, raspar por completo tudo o que redigimos até aqui.
Nota-se, portanto, que a mudança de LEPEM (Laboratório de Ensino e Pesquisa em Medievalística) para LINHAS (Núcleo de Estudos sobre Narrativas e Medievalismos) encerra em si muito mais do que um novo nome. Trata-se de uma nova fase – incluindo aí uma boa dose de reorientação das pesquisas. E, para nossa satisfação como grupo, podemos dizer que foram os novos interesses e relações acadêmicas renovadas que forçaram uma nova identidade e não o contrário.
A inclusão de novos parceiros em nossas atividades, a chegada de novos membros e estudantes com temas atuais e instigantes, tudo isso contribuiu (mesmo sem termos planejado) para que modificássemos as linhas de pesquisa em conjunto com a mudança de nome.
Mas um grupo de pesquisa não sobrevive só de temas e interesses estritamente fechados aos campos de pesquisa. Esta “abertura” que caracteriza a nova fase tem também sua base em alguns de nossos posicionamentos. Acreditamos que a tão repetida “função social do historiador” – esse artífice empenhado em mostrar à sociedade as HISTÓRIAS ao passo que desconstrói gradativamente o que ainda se carrega de MEMÓRIAS – não deve figurar implicitamente no cotidiano de nosso ofício. Independente da especialidade, historiadores devem contribuir com suas vozes e seus textos para que sejam retirados os véus do conformismo e do aprendizado fácil (aquele de quem “tem pressa”), sobretudo em nossa época, tão acostumada ao conhecimento superficial, à imposição de opiniões subjetivas e à propagação de ideologias anticientíficas.
Isso nos dá a tranquilidade de afirmar que o estudo das épocas mais recuadas na história humana nada tem a perder com a afirmação de Benedetto Croce: “toda história é história contemporânea”.